segunda-feira, 12 de julho de 2010

Venceu quem buscou vencer

Até o início dessa Copa, os clichês da bola incluíam apenas sete nações no seleto grupo que poderia ser considerado favorito ao título mundial por já possuírem tal relíquia em suas fileiras. Aliás, eram seis até os uruguaios relembrarem ao mundo o peso de sua camisa, recuperando o prestígio que gastaram com anos de ostracismo. A Itália, atual campeã e única equipe capaz de igualar o número de conquistas do recordista Brasil, sucumbiu logo na 1ª fase, assim como a França, 2ª colocada em 2006 e último país a entrar para o exclusivo grupo de campeões mundiais. Os ingleses se classificaram para as oitavas com muita dificuldade e aí deram o azar de esbarrar na jovem equipe alemã, que posteriormente eliminaria a Argentina.
Jogando mais bola do que todos esses figurões, Espanha e Holanda (os dois países que mais se aproximavam do status de grande seleção, mesmo sem nunca terem conquistado o torneio) chegaram a final da primeira Copa disputada em continente africano, ganhando a chance de exorcizar definitivamente o estigma de "amarelão", apelação recorrente entre seus detratores. Após faturar o título europeu, a Fúria ingressou no torneio como favorita e esperando confirmar o otimismo daqueles que consideravam a equipe madura o suficiente para fazer história na África do Sul. Perspectiva abalada logo na estreia, após a derrota para os suíços. Dali em diante os comandados de Del Bosque deixaram de lado o espetáculo, para adotar uma conduta objetiva, impondo sempre seu ritmo de constante troca de passes baseada principalmente em um meio-campo recheado de operários (como Xavi e Iniesta), além de um atacante (Villa) que viu sua estrela brilhar ao longo da competição.
Os holandeses também sobravam em seu continente há um bom tempo, uma realidade que acabou ofuscada na Euro 2008 pela Rússia (em dia inspiradíssimo de Arshavin), mas que não poderia ser negada após a campanha extremamente convincente nas eliminatórias e o excelente desempenho nos amistosos de preparação para esse mundial. Os 100% de aproveitamento obtidos no qualificatório europeu se repetiram na Copa, onde o país também assumiu uma postura mais cautelosa, porém não menos eficiente. E depois de fazer o suficiente para se classificar com sobras em uma chave tranquila e eliminar a "azarona" Eslováquia nas oitavas, a Oranje se consolidou como postulante ao título depois de eliminar com méritos a trupe de Dunga.
O problema é que no jogo dessa tarde, ambos os finalistas pareciam ter se esquecido da fórmula responsável pelo sucesso no torneio, preferindo resguardar-se em uma forte marcação (muitas vezes truculenta) ao invés de tomar a iniciativa. Conivente, o árbitro Howard Webb insistia em conversar, permitindo que entradas cada vez mais ríspidas se sucedessem em campo. Uma emblemática voadora de De Jong no peito de Xabi Alonso ilustrou perfeitamente esse contexto, repetido diversas vezes ao longo dos 120 minutos.
Com uma partida tão amarrada, o placar só poderia ser inaugurado em um mero detalhe. Dominando a posse de bola, a Espanha poderia ter criado tal acaso, não fosse a inconsistência ofensiva de um setor que contava com o ascendente Pedrito (que apesar de promissor, não parecia maduro suficiente para começar jogando uma decisão) e um apagado Villa. Pior do que isso: em um descuido da defesa, a Fúria quase viu o rival abrir a contagem em um lance onde Casillas mostrou todos os méritos que Robben não teve. O atacante do Bayern de Munique também pediu pênalti em outra boa chance no decorrer da peleja, depositando todas as suas frustrações na reclamação com a arbitragem (em jogada corretamente ignorada pela arbitragem, que ainda lhe valeu um cartão pelos excessos).
Villa também desperdiçou ótima chance no decorrer dos 90 minutos, assim como Sergio Ramos, que fez grande partida, mas cabeceou por cima uma grande chance de marcar o gol do título. Veio a prorrogação e a superioridade latina (que não lhe valeu nada durante a etapa regulamentar) começou a se sobressair frente ao cansaço da Oranje. Nesse momento, a qualidade do elenco espanhol também fez toda diferença, já que enquanto Vicente Del Bosque pode contar com Fábregas ou Torres para mudar a cara do time, Bert van Marwijk teve de se contentar com o tímido Elia ou o limitado Braafheid.
Melhor na partida, a Fúria teve boa chance de marcar com Fábregas (que apesar da fama, nunca se firmou como titular da seleção), mas Stekelenburg foi bem, confirmando seu nome entre os melhores goleiros dessa Copa. Sem recursos, a Holanda teve de apelar, até que finalmente alguém acabou expulso na final com maior número de cartões da história. E quem pagou o pato foi Heitinga. Aproveitando-se da vantagem numérica, os espanhóis cresceram nos minutos finais e acabaram recompensados após uma finalização do incansável Iniesta muito questionada pelos adversários, que pediam erroneamente impedimento no lance. Um gol que finalmente confirmava um destino tão perseguido pela Espanha na história das Copas. Destino esse que insiste em trair os holandeses.
O fato mais importante após o apito final é que nesse mundial prosperou quem se preocupou em jogar bola. Quem entendeu que um pingo de talento em meio a cautela tática que beira a covardia pode fazer toda diferença. O que nos remete a esperança de que dias melhores virão...

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