domingo, 11 de julho de 2010

1974-2010 Uma nova chance



Desde o distante 7 de julho de 1974, há uma curiosa comunidade mundial de fãs do futebol. Ela nasceu no Estádio Olímpico de Munique, com o nome simbólico de Órfãos da Holanda. Foi como se sentiram todos aqueles conquistados pela mítica Laranja Mecânica, o time vestido de laranja que se movimentava como uma máquina bem ajustada, e frustrados com a derrota na decisão diante da também forte Alemanha de Beckenbauer, Breiter e Müller (assista aos gols no vídeo abaixo). Quem aprecia o bom futebol, independentemente da cor da camiseta, e viu aquela Copa certamente se encantou com a Holanda - e passou a torcer para que um dia ela conquistasse a Copa, até como justiça à mudança que os homens de Rinus Michels (foto) provocaram no jeito de jogar.
Eles modificaram não apenas o que se conhecia do futebol até então, mas espantaram o mundo na época por algumas inovações surpreendentes para o ambiente conservador de clubes e seleções. Tinham uma concentração aberta, recebiam a visita de suas mulheres e, em campo, pareciam se divertir com as estratégias de Michels. Era um time sem posições fixas, que marcava por pressão, dava sufoco e buscava o gol o tempo todo. Os homens que levaram agora a Holanda pela terceira vez a uma final de Copa, contra a Espanha, neste domingo, no Soccer City, são herdeiros daquela equipe - e não apenas no futebol, como mostraram ao receber suas mulheres no hotel de Joanesburgo, na noite de terça-feira.
Os órfãos estarão outra vez com as atenções voltadas para o gramado do estádio de Joanesburgo. Afinal, desde 1974 eles esperam pelo título. Não deu certo na Alemanha - num dia em que tudo indicava que a Laranja Mecânica seria consagrada com o título. A um minuto, bem no seu estilo, a Holanda atacou e Cruyff sofreu pênalti de Uli Hoeness. A dois, Neeskens bateu firme e fez 1 a 0. A Holanda que sufocava os adversários largava na final com vantagem. Quem poderia acreditar em virada? Só os alemães mesmo. Vogts grudou em Cruyff, Beckenbauer passou a dominar o meio e Müller só esperava pela chance. Quando a marcação não adiantava, o excepcional Sepp Maier garantia com suas defesas. A Alemanha virou ainda no primeiro tempo. No fim, enquanto Cruyff caminhava de cabeça baixa e Beckenbauer festejava, os órfãos lamentavam o fim da ilusão.
Quatro anos depois, nove daqueles jogadores estavam de volta a uma Copa, desta vez a da Argentina. Ausentes apenas Krol e o grande Cruyff, que deu por encerrada sua participação na seleção. Mais uma vez,os órfãos ficaram bem perto de um título. Num Estádio Monumental de Nuñez superlotado, os argentinos marcaram primeiro (Kempes) e a Holanda empatou (Nanninga), a oito minutos do final do tempo normal. No último lance, o estádio silenciou - e os argentinos levaram um choque: no cruzamento, Rensenbrink pulou sozinho e cabeceou. Todos os olhares acompanharam com aflição aquela bola que bateu no chão, na trave e saiu. Seria a vitória da Holanda, mas a trave não deixou. Eu estava na tribuna da imprensa e testemunhei o impacto que aquele lance provocou. Foi um susto capaz de calar por alguns segundos a barulhenta torcida argentina. Na prorrogação, os argentinos fizeram mais dois e definiram tudo.
Agora, pela terceira vez, os holandeses chegam a uma final de Copa. Diante deles terão um adversário quase tão temível como aquela Alemanha de 1974. Uma equipe técnica, sólida, competitiva, capaz de sufocar um adversário com a força da Alemanha. Como os órfãos terminarão o domingo da África?

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